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Crítica: Esquadrão Suicida

Esquadrão Suicida

Engana-se quem pensa que o crítico vai assistir qualquer filme disposto a não gostar, principalmente em se tratando de uma produção adaptada, baseada ou inspirada em obra com uma grande base de fãs. São tantos ataques pessoais, tantos xingamentos gratuitos, tanta dor de cabeça, tantos cabelos brancos ganhos que tudo que o crítico mais quer é gostar do filme. Mas tem vezes que não tem jeito. Toda esta introdução, talvez desnecessária, para dizer que este é o caso de Esquadrão Suicida. Não teve jeito.

esquadrão suicidaO filme começa do ponto em que Batman vs Superman – A Origem da Justiça termina. Temendo novas ameaças da força do Superman ou do Apocalypse, o governo americano decide colocar em prática um ambicioso plano de Amanda Waller (Viola Davis). Ela selecionou uma série de temidos criminosos e está convencida de que pode formar um time para combater forças sobre-humanas.

Os escolhidos são Pistoleiro (Will Smith), Arlequina (Margot Robbie), Bumerangue (Jai Courtney), Diablo (Jay Hernandez), Crocodilo (Adewale Akinnuove-Agbaje) e Magia (Cara Delevingne), que se juntam a duas peças das forças do governo, Rick Flag (Joel Kinnaman) e Katana (Karen Fukuhara). Forma-se assim o Esquadrão Suicida.

Após as críticas recebidas por Batman vs Superman e o sucesso de filmes como Deadpool, Esquadrão Suicida passou por um processo de remontagem, que contou até com a filmagem de novas cenas. Não dá para saber como seria a versão original, mas parece claro que este novo corte podou muito a personalidade do longa e passou a cara de que estamos diante de uma colcha de retalhos.

Isso é muito claro na primeira meia hora da produção. As introduções são apressadas e aborrecidas, salvo em um caso ou outro. Um problema claro da edição de John Gilroy são os cortes bruscos e súbitos. Ele parecia estar trabalhando para Michael Bay, nem sombra do profissional responsável pelas montagens de O Abutre, Círculo de Fogo e O Legado Bourne.

Esquadrão SuicidaA direção e o roteiro de David Ayer pouco ajudam. Ele parece decidido em fazer um longa sobre um time, mas foca toda sua atenção em apenas dois personagens. Dar mais importância e tempo em cena a Will Smith e Margot Robbie é algo óbvio, afinal são os mais conhecidos e talentosos do time, mas falta um melhor equilíbrio. É só pensar no recente Caça-Fantasmas. Todo mundo só conhecia Melissa McCarthy e Kristen Wiig, mas ganhou a possibilidade de se apaixonar por Kate McKinnon e Leslie Jones.

O grande destaque do filme é Margot Robbie. Linda, divertida, traumatizada, fatal e perturbada, a personagem é complexa e dá a possibilidade da atriz roubar a cena sempre que aparece. Neste caso específico, cabe destacar que o roteiro não foge de deixar claro que Arlequina é vítima de um relacionamento abusivo. Ela não namora o Coringa. Ela foi transformada e violentada por ele.

Chegamos então nele… Sim, o Coringa. Pois bem, assistindo ao filme parece surreal que teve gente falando que Jared Leto superaria Heath Ledger, quando na verdade ele é um Coringa pior que Jack Nicholson e até Mark Hamill. Com as histórias dos bastidores e participações em programas de entrevistas, a impressão que fica é que Leto foi um melhor Coringa na vida real do que no longa. Como conhecemos a história pregressa do personagem, a gente sabe do que ele é capaz, mas em cena temos uma figura unidimensional e pouco interessante. A Arlequina está sempre melhor longe dele.

Will Smith também está bem. Do grupo, o Pistoleiro é o que mais ganha tempo em cena e realmente protagoniza momentos de ótima ação. O resto do time é praticamente todo desperdiçado, seja por pouco tempo em cena (Crocodilo), seja pela completa ausência de talento de atores como Delevingne e Courtney. Por sinal, é difícil entender como o ator conseguiu espaços em franquias como Duro de Matar ou O Exterminador do Futuro. Embora seja fácil entender como ajudou a encerrar estas franquias.

Esquadrão SuicidaAlém de Margot e Will, cabe destacar a presença de Viola Davis. Ela cria uma Amanda que deixaria até sua personagem em How To Get Away With Murder com medo. Ameaçadora 100% do tempo, Waller se impõe diante de figuras muito mais fortes fisicamente do que ela. Ben Affleck surge rapidamente como Batman/Bruce Wayne, mas dá seu recado e temos ainda uma participação especial de um outro membro da Liga da Justiça.

Suicide Squad (no original) contou com uma incrível seleção musical, mas com uma trilha sonora que não funciona. A impressão que fica é que estamos diante de uma ótima playlist por Spotify, mas que não se encaixa na produção. Os fãs da DC irão odiar a comparação, mas fica clara a tentativa de fazer o que Guardiões da Galáxia fez em sua trilha. Só não foi bem sucedido na missão. O que é uma pena, pois as músicas são ótimas.

Parte da trilha, inclusive, já havia sido ouvida nos trailers. Aqui cabe uma observação: as melhores cenas de Esquadrão Suicida, as melhores interações entre os personagens, tudo já tinha sido divulgado nos trailers, teasers ou comerciais. Não sobrou nenhuma boa surpresa para o espectador. A única surpresa, mas esta negativa, é o quanto o filme é uma bagunça.

Não foi dessa vez que a Warner acertou o tom com seus heróis NESTA NOVA SAGA (afinal a trilogia Nolan é incrível). A única regularidade obtida pelos produtores tem sido nos defeitos. O excesso de CGI continua, a fotografia segue muito escura e o 3D é completamente dispensável.

Agora a bola passa para Mulher-Maravilha. A personagem foi a melhor coisa de BvS e o trailer parece incrível. Mas o trailer de Esquadrão também parecia. Parecia.

Obs.: Há cena importante durante os créditos finais.

Boneco do Mal (2016)

Estaprodução de terror começa bem: a americana Greta (Lauren Cohan) é contratada para ser a babá de um garotinho num casarão inglês. Ela logo descobre que a criança, na verdade, é um boneco, criado como se fosse real pelos pais idosos que não conseguem aceitar a morte do filho verdadeiro. Diante deste comportamento atípico, a reação de Greta é verossímil: ela ri, debocha, mas aceita o jogo em função da seriedade dos pais. Eventualmente, sente pena por eles.

098667.jpg-c_270_168_x-f_jpg-q_x-xxyxxA primeira parte de Boneco do Mal desperta interesse por brincar com elementos da percepção: o brinquedo nunca se move diante de Greta, mas os objetos somem ou se deslocam quando ela não o observa. Em todos os casos, persiste a dúvida: o boneco estaria assombrado ou seriam apenas fatores possivelmente explicados pela ciência, como o vento derrubando objetos e o cansaço criando alucinações? Explora-se a questão importante do conhecimento humano entre a razão e a fé, a lógica e o misticismo. Enquanto isso, o diretor William Brent Bell faz um trabalho simples, mas cuidadoso, na composição do ritmo e das imagens.

Estaboa impressão é atenuada pelo segundo terço da história, quando entram em cena alguns truques fáceis dos filmes de terror: barulhos no quarto ao lado, efeitos sonoros destinados a provocar sustos baratos e pesadelos sombrios. Os melhores filmes de terror são aqueles que exploram a complexidade psicológica de seus personagens, por isto, é uma pena que a premissa potente ganhe um desenho de som tão genérico. Esta escolha é ainda mais lamentável porque as atuações são competentes, especialmente a de Jim Norton, que demonstra vigor com os diálogos. Lauren Cohan e Rupert Sanders também se saem bem.

570363.jpg-c_270_184_x-f_jpg-q_x-xxyxxChega então o terço final da história, quando Boneco do Mal se transforma por completo. O filme sofre com a ânsia pueril de querer surpreender a qualquer preço, oferecendo uma reviravolta impensável ao público que já viu de tudo. O roteirista Stacey Menear acredita que está criando o novo O Sexto Sentido, mas sua solução para o conflito é tão absurda que despertou risos gerais na sala de cinema. Neste momento, a história perde seu sentido, os personagens contradizem suas ações e entra em cena um ator pavoroso, Ben Robson, contribuindo a afundar o projeto.

O final deixa a impressão de desperdício. O material serviria a um horror psicológico complexo, mas sucumbe à tentativa espetacular de estar um passo à frente de seu público – e também dos personagens, e de qualquer sentido lógico. Para piorar, o roteiro abre a via para a possível sequência, algo que dificilmente acontecerá após os resultados modestos na bilheteria. Este é mais um projeto que troca seu potencial narrativo pela tentativa de chocar, “viralizar”, funcionar como um genial golpe de marketing. Mas como cinema, é sensacionalista e vazio.

Crítica: Os Caça-Noivas

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Os Caça-Noivas chega aos cinemas procurando repetir o sucesso de recentes comédias insanas sobre casamento, como Se Beber, Não Case!, Missão Madrinha de Casamento e Quatro Amigas e um Casamento. Uma novidade em relação aos longas apontados, é o fato de dar a mesma importância aos personagens masculinos e femininos. Uma diferença, no entanto, está na qualidade. Ainda que tenha seus méritos e algumas boas cenas, a nova comédia falha em entregar um bom entretenimento.

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Mike (Adam DeVine) e Dave (Zac Efron) são dois irmãos que têm a fama de arruinar eventos da família. Festeiros, eles sempre passam do limite. Com a proximidade do casamento da irmã mais nova, eles recebem o ultimato dos pais de que devem levar acompanhantes para a festa. Com isso, acabam em busca de garotas para levar ao casamento. Colocam anúncio online, participam de programa de TV e tudo mais.

Ao saberem da possibilidade de ganhar uma viagem com tudo pago pro Havaí – local do casamento -, as jovens Alice (Anna Kendrick) e Tatiana (Aubrey Plaza) forçam um encontro com os irmãos e acabam convidadas para a festa.

Antes de analisar elementos mais importantes do filme, há de se destacar a péssima tradução do título no Brasil. Os Caça-Noivas? Não faz o menor sentido, uma vez que eles não estão procurando pares para se casar. Eles querem apenas uma companhia para um casamento. Este, por sinal, é o espírito do título original: Mike and Dave Need Wedding Dates (Mike e Dave Precisam de Encontro para um Casamento).

O elenco apresenta uma boa química, com os casais Efron/Kendrick e DeVine/Plaza funcionando bem. No entanto, individualmente, os personagens de Kendrick e DeVine deixam muito a desejar. Alice tem seus momentos, mas conta com elementos narrativos sofríveis. O trauma passado pouco acrescenta à personagem e é repetido exaustivamente.

Plaza acaba roubando a cena, mas é inegável que continua interpretando sua persona padrão. A garota louca, ameaçadora e sexy que pode acabar com a vida de uma pessoa e não se incomoda de dizer uma barbaridade ou outra. Efron é o mais normal da turma e por isso acaba sendo o mais plausível.

Diretor do telefilme 7 Days in Hell, Jake Szymanski comanda a produção sem demonstrar muita criatividade ou originalidade, oferecendo uma série de cenas soltas e má desenvolvidas. Algumas arrancam o riso na base da insistência. Em outras, é possível ouvir grilos.

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Estamos diante de uma comédia insana, mas também descartável. Há algo de interessante nos personagens, mas há também a sensação permanente de que alguma coisa está faltando. E está mesmo. E esta coisa se chama roteiro.